domingo, 16 de dezembro de 2007



TENDA LITERÁRIA
PROGRAMA EDUCATIVO DE RADIODIFUSÃO QUE VAI AO AR TODAS AS SEGUNDAS, QUARTAS E SEXTAS-FEIRAS COM INÍCIO ÀS 21h NA FUNDAÇÃO EDUCATIVA SALESIANA PADRE CÍCERO - FM 104,9



http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=29055016

Rua Padre Cícero, 1440 - Juazeiro do Norte-Ceará - Brasil
CEP: 63010020 CNPJ: 02.857.089/0001-32
Fone: +55 (88) 3512-2000 FAX: +55 (88) 3512-1193

Produção, Apresentação e Locução: Prof. Ivan Nascimento*

MENSAGEM:

Senhores, Senhoras, Jovens - amantes da Música e da Literatura:

É com muita hora que iniciamos o nosso Diário da Internet - BLOG. O programa Tenda Literária vai expor alguns textos que já foram lidos no nosso programa de rádio e brevemente contará com vossas sugestões e críticas sempre. Visitem nossa comunicade no Orkut: "Eu ouço tenda literária" e... Carpe diem!

Ivan Nascimento


















A Flor e A Náusea **

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre

fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.


* Ivan Nascimento (1981-)


Pós-graduado em Língua Portuguesa e Docência do Ensino Superior, Radialista e Professor de Literatura Brasileira. Atua na área desde 2005. Radialismo por entusiasmo, Salesiano de coração, amante da língua mãe e profissional das "humanas". Escreve crônicas, poemas e, de vez em quando textos de crítica literária.


** Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
POETA. Nasceu em ltabira (MG) em 1902. Fez os estudos secundários em Belo Horizonte, num colégio interno, onde permaneceu até que um período de doença levou-o de novo para ltabira. Voltou para outro internato, desta vez em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro. Pouco ficaria nessa escola: acusado de "insubordinação mental" - sabe-se lá o que poderia ser isso! -, foi expulso do colégio. Em 1921 começou a colaborar com o Diário de Minas. Em 1925, diplomou-se em farmácia, profissão pela qual demonstrou pouco interesse. Nessa época, já redator do Diário de Minas, tinha contato com os modernistas de São Paulo. Na Revista de Antropofagia publicou, em 1928, o poema "No meio do caminho", que provocaria muito comentário.